A justiça é cega??



Que somos manejados pelos meios de comunicação é fato. Mas ainda assim, chega causar revolta certos comentários dos repórteres da TV aberta, pois, mesmo ela sendo ela  sendo aberta, eles deveriam supor que, do lado dos manipuláveis (a saber, eu e os meus iguais), possa existir alguém com algum lampejo de raciocínio. Durante o treino da fórmula 1 em Cingapura, o repórter global Reginaldo leme, num dos comentários inteligentes sobre esse episódio da Renault, que então era comandada com mãos de ferro pelo capo de tutti capo, o papa Flavio Briatore, que ordenou ao piquezinho que jogasse o carro contra o muro, nesse mesmo circuito, há um ano atrás, para beneficiar o seu companheiro de equipe, "Fernandito", não o Henrique, o Alonso. Depois de louvar o incontestável talento do Nelsão Piquet nas pistas e falar da retidão de sua conduta, o doutor, jornalista, comentarista e psicólogo global externou uma grande preocupação com o futuro profissional e com o equilíbrio psicológico do (palavras dele) jovem de 24 anos Nelsinho Piquet.
É aceitável a idéia de que o senhor Leme, como amigo da família, ou em defesa da casta, se enterneça pela encrenca que o jovem Piquet se meteu. Houvesse ele seguido o exemplo do pai e se preocupado de fazer o resultado nas pistas, não teria se metido nessa enrascada. O que me preocupa é a capacidade da imprensa televisiva de cerrar essa cortina de fumaça diante dos nossos olhos e nos tornar cegos diante dos nossos problemas imediatos, umas vezes explícitos, muitas não. Exemplo: sempre que um jovem de periferia comete qualquer ato ilegal, e admito que não sejam poucos, a imprensa televisiva escrita e falada, faz um clamor, ou pelo menos levanta questão da necessidade da diminuição da idade penal. Alguns chegam a afirmar que essa é a solução primeira para diminuir a criminalidade, e quase sempre esses insignes profissionais da comunicação são unânimes em afirmar que esse é o primeiro recurso a ser tomado.
Já quando as infrações são cometidas pelos herdeiros da burguesia, muda-se completamente o tom do discurso. Fala-se logo em medida sócio-educativa adequada realidade do infrator, por ser ele uma pessoa de bons antecedentes, não importando o grau ou gravidade do crime cometido. Ainda há pouco (passe o tempo que passar, pra mim terá sido sempre ontem) atearam fogo num índio, depois “se justificaram” dizendo tê-lo confundido com um mendigo. Eu não sei o que mais me chocou: se o crime, a justificativa ou a plausibilidade do mesma, diante de uma considerável parcela da população. Porque eu mesmo ouvi de varias pessoas: “É que eles pensavam que fosse um mendigo”. Como se queimar mendigo fosse solução para todos os problemas da sociedade.
         Hitler no inferno deve dar gargalhadas a cada comentário desses, e satanás deve comentar: “Em breve esses estarão lhe fazendo companhia”. O que mais me preocupa e entristece é que alguns desses comentários brotam no meio das classes menos favorecidas, com a qual eu convivo e à qual pertenço. Ainda ontem, a polícia, não sei se do estado de São Paulo ou do Rio de Janeiro, abateu, com um tiro certeiro, um elemento que mantinha uma jovem como refém. A noticia girou o globo em tempo real, causando um frenesi geral, e, pasmado, eu percebi nos semblantes de todas as pessoas um ar de admiração pelo feito do atirador de elite, como se ele tivesse abatido um rato de esgoto ou coisa pior, e não um ser humano, um igual, que pode ter se desvirtuado no percurso entre a infância e a adolescência, mas quando criança, os seus genitores ou parentes mais próximos devem ter depositado nele seus melhores sonhos. E se assim não o foi, ele já terá nascido uma vitima. O fato é que, se atitude similar à do Nelsinho for cometida por qualquer membro de periferia, encontrará imediata repulsa por parte da imprensa e da sociedade, principalmente no próprio meio de convívio do individuo, porque nós estamos sendo cada vez mais acondicionados, através de uma alienação insidiosa, a aceitar a máxima de que rico pode tudo e ao pobre só obedecer. Enfim é a prática, na íntegra, dos ensinamentos de Maquiavel, só que, no nosso caso, um tiro no pé. Em tempo: eu me recusei a ver as imagens do abate do sequestrador. Estou tentando fazer o caminho inverso: ao invés continuar me embrutecendo, me insensibilizando, estou voltando, numa tentativa meio desesperada, em busca da minha inocência perdida.
EDVAIR RIBEIRO DOS SANTOS 27 setembro 2009-09-28 as 9:50

1 comentários:

Rosana Ferrugem disse...

Parabéns Edvair!!!
O importante é não deixar morrer a criança que existe dentro de cada um de nós!!! quem sabe essa criança travessa aprenderá como viver!!!
Do lado de uma criança existe sempre o adulto coerente...simples...poeta!!!

Abraços,

Rosana Ferrugem de lacerda

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