Para J. Pingo
Eu, um escritor autodidata, escrevo com a emoção nas mãos.
Não por não ser racional ou por não dominar a metodologia, chamada de científica e que qualifica um doutor.
Sou um ser prático, um peão, um motorista de caminhão, um oleiro e isto deveria fazer de mim um ser duro e ressequido, mas é que falar de J. Pingo me amolece o coração.
E ocorre que, andando na contramão e burlando as dificuldades, por um acaso conheci J. Pingo, um monstro semi-sagrado na luta pela liberdade de expressão e pela diversidade.
Era ano de 1993 do século próximo passado. No intricado enredo que compõe a existência, terminei alugando um espaço do tipo comercial, localizado no imóvel do dito J. Pingo no condomínio San Diego, que nesse ano citado não detinha o glamour do progresso que ostenta no momento.
Era um lugar meio ermo, com poucas casas, muito mato e o comércio era composto por poucos estabelecimentos: A loja Animax, a Paulo Fontes, a Madepar, a Só Pedras, o Aquinos e o prédio do Virgílio, ainda em construção.
Depois tínhamos a casa do J. Pingo, que comportava um mercado administrado por um amigo comum e a residência do Pingo propriamente dita. Era uma casa muito engraçada, meio sem porta, aonde o ir e vir era livre.
Pingo, um meio-gigante de quase dois metros de altura, deslizava sutilmente entre a casa e o comércio e, apesar da grande envergadura, às vezes passava despercebido. Mas ao olhar para ele sentia-se de imediato forte aura de ternura, de amor pela vida e pelos seres que compõem a raça humana.
Quando estendia o olhar tinha o carregado de compreensão.
Quando abria os braços de maneira meio lenta, era como se abraçasse o mundo ao alcance de sua visão.
Altruísta, humanista, aluno, professor, sonhador.
Nasceu, cresceu e construiu, na parte que lhe cabia deste latifúndio, o sonho de um mundo melhor.
Agora que sua missão na terra finalizou-se, a sua aura positiva vai influenciar novas vidas no lugar onde as almas se confraternizam sem nenhuma divisão, onde talvez não haja castas ou camadas sociais.
Onde talvez não haja proibições, normas, leis ou regras especiais.
E esse lugar para J. Pingo será o paraíso, pois ele terá conseguido alcançar seu eldorado, semelhante ao sonho de liberdade do seu projeto começado no condomínio San Diego ao qual ele, um pioneiro, deu o nome de Mercado Cultural Piloto. Eu e meus companheiros do Movimento Supernova de São Sebastião, ainda em luto pela perda de um parceiro desta envergadura, consolamo-nos ancorados na historia de vida deste que foi semi-idoso em formação, adulto- constantemente rebelde, adolescente-podado e garoto-inconformado, um ser sempre em movimento, homem em constante ação. Um homem infinitamente "maior que a propria envergadura".
Edvair Ribeiro em 02/12/2012
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