Hoje conheci um restaurador de livros












Aos quarenta e tantos anos de idade, eu me considero um sujeito, com senso de observação acima da média, posso afirmar já ter visto muitas coisas, vivido outras várias e se não vi a arca de Noé cruzar os mares, vi imitadores Salomão cantar salmos pelos ares. Nascido na roça sou da época do carro de boi, da viagem a cavalo, do beber leite espumado, direto das tetas da vaca pra caneca, que entornava de um só fôlego, para exibir o bigode de espuma que ficava desenhado em cima do lábio superior -que no interior de Goiás era conhecido como beiço. Aterrorizei-me com a visão do primeiro veiculo motorizado (um jipe da policia), me admirei com o funcionamento do radio de pilha, cheguei à beira do desespero ao ver pela primeira vez um helicóptero em pleno vôo. Até os seis anos de idade me extasiava com a visão dos cardumes de piaus, tabaranas, curimatãs, matrinchãs e outras espécies nos poços do rio Canabrava e pedras no estado de Goiás. Me transferindo para o DF fui apresentado ao progresso e a tecnologia, a luz elétrica, o prédio do senado-que meu pai denominava de o 28 numa alusão aos seus 28 andares, a escada rolante-que me deixava encafifado por não ter começo e nem fim, os ônibus articulados-conhecidos ate o final da década de 60 como os papa fila. Me familiarizei com os vôos dos aviões, entre eles o helicóptero e fui apresentado aos livros, e a partir de então, entrei num universo especial, fadas, duendes, super heróis, anjos, deuses e semideuses, reis, guerreiros e vassalos. Através dos livros, viajei por continentes, por galáxias, por planetas, testemunhei conspirações, golpes de estado e torturas, conheci espiões, presenciei julgamentos, execuções, me fiz membro da liga da justiça, me comparei com o falcão, o meu segundo super herói negro (o primeiro foi meu pai) e assimilei um pouco de informações sobre os efeitos da kriptonita no corpo do superman. Enfim, nesses 48 anos de existência, (lembrei agorinha minha idade com exatidão) os meus olhos viram muita coisa concreta e minha mente, intermediada pelos livros, registrou outras tantas abstratas, exemplo: os duendes, os discos voadores, o cavalo alado de Ulisses, a cidade submersa de Atlanta e os restauradores de livro, sim senhores, até hoje, eu só havia ouvido falar desse ser que para mim é meio que encantado, por cuidar da restauração do invento mais importante do mundo, que são as obras impressas, por que eu sou fã de todo o ente que lida de alguma forma com a literatura, do cara que fabrica as tintas, dos prelos ao editor, para mim, esses são tão importantes como o escritor e o restaurador. Com os escritores, esses loucos maravilhosos eu tenho o prazer de ter conversado, abraçado e ter ganhado livros autografado. Já ó restaurador até hoje, eu só conhecia de nome, de ouvir falar e uma ou duas vezes pela televisão. Então na minha visita matinal a biblioteca, eu vejo um senhor costurando um livro de aspecto antigo ao ver a habilidade e à maestria com que ele efetuava a tarefa, eu perguntei: o senhor é restaurador de livros?-Há quarenta anos- ele me respondeu!- fiquei maravilhado o restaurador de livros está para mim, como um curador pro Louvre, como o beijo pro namoro e numa comparação infame, como a propina pro corrupto, o restaurador conserva, eterniza a obra publicada, zela, trata, cuida como a um filho (a), o restaurador é uma artista, um culto, um erudito. Nesta minha passagem pelo serviço público tenho tido varias surpresas e gratas aquisições, tenho agregado varias personalidades ao meu ciclo de conhecimento e que tem se transformado em amizade e espero que o senhor Antonio, o restaurador, seja uma delas. A quem interessar possa anuncio: hoje conheci um restaurador de livros, ele se chama Antônio Loureiro e reside em são Sebastião!

1 comentários:

ss news disse...

o restaurador de livros transporta automaticamente a "o nome da rosa"...

Postar um comentário