“Um Aedes me atacou, e ai me bateu uma saudade enorme dos
tempos da minha juventude oleira, o que me levou a criar uma paráfrase da velha frase
clichê; éramos felizes e sabíamos.”
Naqueles tempos, empurrávamos pachorrentamente o carrinho da
existência e nossa simplicidade de moradores de roça não entendia como
fardo. Não obstante a proximidade das
olarias da papuda com o plano piloto e de sermos corresponsáveis pela
construção da capital, até o inicio dos anos oitenta vivíamos a anos luz de usufruir
dos benefícios infraestruturais proporcionados aos moradores da urbe Brasília e
suas satélites
Na lida das olarias o “batente” era árduo, levantávamos
no inicio da madrugada e a labuta seguia até o cair da noite. Para nos
higienizar tínhamos os córregos Santo Antônio da papuda, o mata grande, o Capão
cumprido e para quem morava no morro, hoje chamado morro azul era utilizada a água
da mina que ainda hoje em épocas chuvosa como a de ora, corre abundantemente. É,
éramos felizes e sabíamos.
A assistência medica era proporcionada pela extinta
instituição, Legião Brasileira de Assistência (LBA), instituição essa que
agonizou até a morte no governo Collor, mas que enquanto durou cumpriu com
louvor a parte que lhe cabia nos cuidados dos moradores dessa região oleira.
Éramos acometidos dos males corriqueiros, mas nos recusávamos a morrer. As
mesinhas e rezas das curandeiras davam conta do recado, numa parceira oficiosa
com médicos, enfermeiras, os agentes da secretaria de saúde e com LBA. É, éramos
felizes e sabíamos.
(Faço aqui uma menção honrosa à saudosa dona Juliana
Souza Serra, primeira agente de saúde da região da papuda). Nesses remotos
tempos, as moças e as guerreiras mulheres da região engravidavam e mesmo diante da
distancia do acesso ao sistema de saúde, às crianças nasciam, muitos deles em
partos caseiros sob os cuidados da parteira ‘Maria fuiça’. Entre os anos de 1967/
1984, não ocorreu de nenhum caso de morte de parturiente ou de recém-nascido
que se entregaram aos cuidados desta sábia mulher. É, éramos felizes e sabíamos.
Como lazer, no final da
labuta nos dias uteis, tomávamos uns goles cachaça a tarde ou à noitinha, alumiados
pelas luzes das lamparinas a querosene, ou pelo clarão da lua cheia, nas beiras
dos córregos acima mencionadas, antes do mergulho higienizador.
Nos sábados, depois 10 horas da manha íamos até o
núcleo bandeirante, voltávamos à noitinha. Nas noites de fim de semana, sempre alguém
improvisava um arrasta-pé embalado por uma radiola a pilha nos velhos discos de
vinil desgastados pelo excesso de uso. Nos domingos disputávamos torneios de
futebol interno e externamente ou partidas amistosas.
Comprávamos nossas
roupas nas feiras do Paranoá, núcleo bandeirante ou dos mascates como o Joaquim
mascate e dona Iracema Lacerda. Quando anoitecia os sortudos que tinham "uma
garota para chamar de sua," visitava a casa dela onde ouvia por longo período,
as historias de valentia do pretenso sogro, quando não era vigiado pela sogra,
cunhado e afins. Sempre haviam os mais malandros que conseguia através de
artimanhas manjadas uns momentos a sós com o "broto".
Todo esse a devaneio
nostálgico foi suscitado pelo ataque no meu tornozelo desferido por um infame Aedes Egypt,
enquanto eu navegava na internet. Estapeei com sucesso o local atingido pelo o
Aedes e logrei sucesso em abatê-lo, o peguei inerte no piso, analisei suas patas
rajadas, entrei em auto-transe hipnótico regredindo numa curta viagem no
período histórico da velha região da papuda. Nesse tempo, há pouco
mais de 35 anos, não existia aqui o tal do Aedes. Tínhamos o mosquito
borrachudo, tínhamos a mutuca, maribondos, a muriçoca ou pernilongo entre outros
insetos. Mas suas picadas não culminavam em viroses semi-fatais com o tal do Aedes,
no máximo produzia coceiras. Para extermina-los, o veneno da marca Mafú ou Baigon
da byer. Para afugentá-los, usávamos como repelentes queimar panos velhos ou queimar
fezes seca da vaca.
Veio à transformação. A
papuda passou se chamar cerâmica, agrovila São Sebastião, até ser emancipada
em 1993 como São Sebastião a XIV região administrativa do Brasília. Essa
transformação trouxe vários benefícios e uns poucos malefícios, entre os
malefícios a dengue.
Eu, que ao contrair
dengue pela primeira vez no ano de 2002, comecei a adotar atitudes de prevenção
movido pelo medo de morrer, pelos sofrimentos ocasionados pela virose. O resultado
dessa soma tornou-me mais sensível às campanhas educativas desencadeadas pelo
mistério e secretaria da saúde.
Me tornei mais ciente que o dinheiro gasto em campanhas não deve ser desperdiçado pelo descaso de parte da população. Eu que fiquei meio paranoico em relação a dengue; faço vistoria periódica no meu quintal, sempre que vejo um recipiente que possa se tornar um foco da dengue exposto em casa ou na rua, procuro torná-lo inútil para o |Aedes. Aqui em casa fazemos coleta seletiva, separamos o lixo orgânico do reciclável
Me tornei mais ciente que o dinheiro gasto em campanhas não deve ser desperdiçado pelo descaso de parte da população. Eu que fiquei meio paranoico em relação a dengue; faço vistoria periódica no meu quintal, sempre que vejo um recipiente que possa se tornar um foco da dengue exposto em casa ou na rua, procuro torná-lo inútil para o |Aedes. Aqui em casa fazemos coleta seletiva, separamos o lixo orgânico do reciclável
No dia 18/03\2019 de
manhã quando fui colocar o lixo orgânico na calçada para o pessoal da coleta, me deparei com um pneu velho cheio de água. Esvaziei o dito pneu o guardei na minha garagem e
quando chegou à noite o coloquei junto do material reciclável, certo que o
pessoal da coleta seletiva iria levá-lo. Infelizmente eles não coletam pneu.
Resultado, no outro dia de manhã o referido pneu estava de novo cheio d’água na
calçada, o recolhi e agora estou zelando dele com carinho, o coloquei debaixo
da minha garagem e enquanto não consigo descartá-lo de forma responsável vou
mantendo-o em sistema de adoção.
Talvez meu texto, minha
anunciada ação possa ser interpretado como pretensioso ou pedante. Não é essa
minha intenção, este é apenas o desabafo de um sujeito em processo constante
de auto reeducação. Que tomou consciência de que no caso da dengue a parcela de
responsabilidade do governo federal ou estadual bem menor do que da população.
Especificamente no DF.
Aqui dengue se
prolifera em razão do descaso da população que se faz indiferente diante das
campanhas educativas. Cooperando assim com o aumento das infecções e óbitos
provocados pelo Aedes Egypt.
Quem nunca contraiu dengue não está perdendo nada!! Eu já a contraí , três vezes!! O fato desse flagelo não ter existido no nosso passado me faz repetir; Éramos felizes e não sabíamos.E enquanto não conseguir dar um fim responsável ao pneu velho, vou assumir essa adoção espontaneamente forçada e espero temporária.
Quem nunca contraiu dengue não está perdendo nada!! Eu já a contraí , três vezes!! O fato desse flagelo não ter existido no nosso passado me faz repetir; Éramos felizes e não sabíamos.E enquanto não conseguir dar um fim responsável ao pneu velho, vou assumir essa adoção espontaneamente forçada e espero temporária.
Edvair Ribeiro em
19/03/2019
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