São Sebastião teve hoje, 1º de outubro de 2011, momentos de retorno ao passado, quando os produtores rurais da região organizaram um grandioso desfile de carros de bois e, num trajeto que durou quase cinco horas, percorreu mais ou menos 8 km pelas ruas da cidade. O cortejo partiu do parque agropecuário da cidade e descendo a Avenida Central da Vila Nova/São José, cortando a Rua da gameleira, Avenida São Sebastião, depois acessando a avenida comercial na altura do fórum, seguindo até a Escola Cerâmica São Paulo, subindo morro azul e retornando ao ponto de partida pela Avenida São Sebastião.
Foi lindo ver aquele comboio composto por nove carros, sendo cinco de quatro juntas e quatro de três juntas de bois, mais duas carroças, uma mini charrete puxada por um pônei, um mini-boi montado por um garoto e uns 20 ginetes, servindo como batedores e protetores da retaguarda, já que o desfile não contou com batedores policiais, apesar de terem sido solicitados, num desfile de que prendeu a atenção de todas as pessoas que o viram. Como o trajeto passou quase sempre pelo perímetro comercial, o que se viu nas lojas foram clientes interrompendo as compras, lojistas e vendedores esquecendo momentaneamente os lucros e as comissões, para observarem o comboio passar.
Transeuntes aleatórios sacavam seus celulares e, enquanto uns ligavam para dar a noticia para quem estava distante, outros disparavam os flashes dos mesmos e das câmeras fotográficas para registrar o acontecimento. Janelas abriram-se, pais desceram escadas com os filhos encarapitados no pescoço e, com brilho nos olhares, ficavam a tentar explicar a eles que a cena fazia parte de um mundo real que eles, os filhos, não conheceram.
Num momento em que eu me preparava pra tirar uma fotografia, alguém tocou meu braço e perguntou: “que onda é essa aí, mano?” Eu dei a resposta óbvia: “é um desfile de carros de bois!” Recebi de volta o comentário embevecido do meu interlocutor: “Massa véi, muito doido!” “É muito doido!” Endossei e voltei a meu mister de fotografar o evento.
O fato é que o cortejo quebrou a rotina da cidade, pois, apesar de ter levado o transito a um passo de tartaruga, por onde passou não causou o menor estresse entre os integrantes do comboio e os motoristas. Ao menor sinal de tumulto, os batedores a cavalo paravam o comboio para fazer o transito fluir e da mesma maneira o interrompia para a locomoção do desfile. Assim, os nove carreteiros conduziram com maestria suas juntas quatro e cinco bois, com os bois de coice suportando peso, a junta de meio ajudando na tração e os de guia obedecendo aos comandos do carreteiro sem ter, este, a necessidade de recorrer ao ferrão.
Todos os carros fizeram o trajeto entoando a cantiga provocada pelo atrito do chumaço sobre o eixo, massageando os ouvidos e enchendo corações de nostalgia. Uns iam carregados com meios fios de concreto, outros com madeira e um único com uma perfeita carga de cana disposta entre fueiros, tendo ainda uma versão para ser puxada por mini-bois sobre a carga.
O comboio foi formado por pessoas de ambos o sexos e as mais várias faixas de idade. Havia garotas, garotos, mulheres e homens até a faixa dos septuagenários, todos em perfeita harmonia, demonstrando respeito e amor pela forma de vida escolhida. E em meio a ordens quase mudas, conduziram suas juntas de bois acoplados ao cabeçalho pelas cangas, cambões e canzis que iam movendo, lentamente, os carros de rodas cravejadas pelo asfalto, emitindo o som saudoso e histórico que durante épocas ecoou pelas estradas do sertão e do Brasil que muitos brasileiros não conheceram e alguns já haviam esquecido.
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