Um ano sem meu sogro Manezinho


 Aqui, Manezinho, Dona Ana sua esposa e cinco dos seus seis filhos.

           
 Há mais ou menos quarenta e sete anos (nos anos idos de 66/67), ainda menino, ouvi esse nome pela primeira vez. Manezinho do Américo. Durante dezessete anos me acostumei à idéia de que ele, Mané, era referencia.  Ele era mencionado nas historias de caçadas, de vitorias em partidas de futebol, em festas, em cachaçadas, nas lidas de tocar boiadas, em ações de filantropia, nas aventuras das pescarias, nas escorregadelas das pu... ta...rias, e todos esses fatos e citações  lhe emprestava uma aura de mitológica galhardia.
                 Há vinte e nove anos, precisamente a partir de março de 1984, eu meio que sorrateiramente adentrei no seio do olimpo do mito Manezinho, de olho, na sua penúltima filha donzela e me dispus respeitosamente a enfrentar a fera. Ouve no inicio um embate silencioso onde eu, respeitando as ordens escritas e não escritas em cujas linhas visíveis ou não, rezam que a casa de um homem é seu castelo. Procurei sempre respeitá-lo como rei do lar que ele era.
                Houve porém, momentos que chegamos à beira das vias de fato, por causa dos excessos, que eu sempre tive certeza, que ele tomava causado pelo ciúme paterno e pela minha arrogante pretensão, na interpretação dele, em querer desposar sua filha. Mas até mesmo esses entreveros, foram desenvolvidos na base do respeito mutuo.
                Entre o longo embate silencioso e os poucos ataques verbais, foi consolidando nossa  amizade. Desposei sua filha, geramos pra ele três netos, dois meninos e uma mocinha, e não obstante os desentendimentos naturais, nos tornamos verdadeiros amigos. Venci o seu lado arredio e posso dizer que seja talvez uma das poucas pessoas, que trocou com ele abraços autênticos, carregados de carinho de respeito.
                Manezinho foi minha fonte de historias, era fato corriqueiro, sentarmos debaixo do pé de manga ou do abacateiro de sua casa, onde eu me dispunha a ouvir suas aventuras e desventuras, estas ultimas eram poucas nas suas narrativas, onde ele, dono de uma memória prodigiosa relatava fatos de sua infância que se confundia com a história de Brasília. Durante vinte e oito anos de minha vida essa foi minha rotina, vivi a família de mané, que se tornou minha família, enquanto naturalmente fui sendo envolvido por sua aura patriarcal.
                Hoje, dia três de fevereiro de 2014, faz exatamente um ano que Mané partiu. Faz um ano que ficamos privados do seu sorriso, sua gargalhada única, de  sua voz, de sua presença, enfim e dos seus humores.  Nesse ano não houve um dia que eu não me lembrasse de sua imagem, seus cacoetes, ou não repetisse um dos seus bordões, . Nesse ultimo ano eu tive que reaprender a viver, tive que realinhar minha rotina. Esse primeiro ano sem Mané tem sido, pra mim, pura saudade. Saudade essa que só o tempo pode amenizar, sim amenizar, apagar jamais, pois enquanto eu viver, na minha memória Mané será eterno.    


Edvair Ribeiro em 03/02/2014                                                                                                             

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