Fobias



Eu tenho medo de caminhar para o abismo do desamor

Eu tenho medo desdenhar o olhar opaco de uma criança

Eu tenho medo de me tornar indiferente diante da dor

Eu tenho medo de ajudar a apagar a chama da esperança


Eu tenho medo de perder o medo do saldo daninho da violência

Eu tenho medo da normalidade dos estampidos na minha rua

Eu tenho medo da verdade nua e crua do sangue seco no corpo inerte


Eu tenho medo que o meu herói um dia venha ser o atirador de elite

Eu tenho medo que choro de dor de uma mãe deixe de ser triste

Eu tenho medo do entorpecimento do sentimento do dedo em riste


Eu tenho medo da força da fome e do seu efeito no bicho homem

Eu tenho medo do olhar fixo de uma criança passando frio

Eu tenho medo de achar normal o caos geral no hospital

Eu tenho medo que esses medos deixem de me fazer mal

2 comentários:

Blog da Marceli disse...

Meu caro Edvair. É um prazer indizível poder visitar o seu blog e de quebra ter a oportunidade de comentar a sua maravilhosa poesia! Tive o gosto de te conhecer num encontro promovido pelo CEPSS (Centro de Educação Popular de São Sebastião) há alguns domingos. Você nos prestigiou com sua presença e sua alta poesia! Eu me arrisquei a ler alguma coisa feita de próprio punho e até tive a honrosa oportunidade de conversar contigo. Me supreendi pelo fato de estar em presença de alguém que viu e acompanhou de perto o nascimento, o crescimento da nossa bela cidade, alguém que passou por um turbilhão de dificuldades e não ser rendeu a elas, muito pelo contrário, que está aqui hoje, vivíssimo da silva para contar e recontar a história de São Sebastião para quem quer que seja! Muito me orgulho por esse sentimento identitário que vc tem em relação ao local que viu crescer, que o viu andar de pé nu pelas estradas, que frequentou a primeira escola da cidade e que guarda em suas reminiscências aqueles sentimentos que habitam a infânica e a puberdade de todos nós: a curiosidade, a inocênica, a espontaneidade, os primeiros contatos com o amor, e por ai vai, meu caro Edivair..
Temos muito ainda o que aprender com contigo! Essa geração que está ai, então, nem se fala, meu amigo!
Vou ficando por aqui! Um grande abraço!
Francisco Neri.

Blog da Marceli disse...

O medo,meu amigo, o medo...
Bacana o seu poema, Edivair!
Vivemos tão alucinados, ébrios e mergulhados em tantos afazeres, tantas lutas e batalhas travadas no cotidiano, tudo em nome de uma felicidade que a cada dia parece estar cada vez mais distante e irrealizável, que até chegamos ao desbunde de não mais sentir medo, de não mais sentir, não mais amar, se alegrar, se cuidar...
Acredito que o medo deve ser uma constante em nossa vida, sim! Não o perdamos de vista, nunca! Perder o medo é perder-se de todo. Eu tenho medo de continuar submetido a esta vida comezinha de juntar mais e mais para no fim das contas não ter nada, isto, é não ser feliz! Eu tenho medo de passar por um mendigo e não mais me sensibilizar com sua situação, sua miséria! Eu tenho medo de continuar acordando todas as manhãs, pegar o meu ônibus par o trabalho e que as pessoas continuem insistindo em estranhar o fato de eu olhar para elas e as cumprimentar! Eu tenho medo de ser indiferete, insensível com as pessoas e com o mundo! Ah, meu amigo, são tantos medos, mas os perdamos, não os perdamos de vista, jamais! Não, não esse medo que nos sustem e mantem a chama da nossa vida sempre acesa, esse medo que não nos deixa cair em abismos, que nos impele e nos chama para viver a vida em plenitude como pessoas verdadeiramente humanas que somos!

Um abraço, meu amigo!

Francisco Neri.

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