ghetto




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Devaneando, entre o sono, o despertar e o delírio
Levitando entre a matéria, o espírito e a razão
Entre as ruelas e os becos sujos da cidade
Eu me conduzo meio a esmo assim perdido
Com minhas sandálias havaianas solas gastas
Enlameadas nos chorumes dos esgotos a céu aberto
Vou flutuando na minha Geena social particular
Que é a miséria passiva, do meu povo, meu lugar

Esse é meu mundo, meu lugar, o meu éden
É o meu povo, meu quartel, a minha praça
É minha Europa, meu Haiti, minha Soweto

Vejo crianças esquálidas tez encardidas e chupadas
Vejo meninas semi-moças em desfile já faceiras
Com a inocência moribunda perdendo pra sedução
E nos seus olhos e sorrisos imaturos, ainda puros
O insistente e crescente nascimento da ilusão

Vejo tarados enrustidos em respeitáveis senhores
Olhos lascivos e sorrisos próprios dos predadores
Uns tecendo planos para as moças do amanha
Outros já entre assovios e gracinhas inocentes
E num circulo vicioso vão vitimando a sociedade
Como aranhas vão tecendo estendendo suas teias
Sobre o destino das netas dos filhos da cidade
“Vejo puliças” rondando as ruas nas viaturas
Com os braços displicentes escanchados nas janelas
Com olhares debochados sibilando entre dentes
Propostas indecentes para as moças nas calçadas
Inconseqüentes protegidos pela farda e a patente
Enquanto olham os pivetes com ódio e desdém
Querendo-os mortos e dispensando réquiem

Nos botecos copo sujo, seres de olhar perdido
Dividem a dose solidaria, mendigada entre amigos
Ou resultado do cartão do vale gás e bolsa escola
Enquanto uns falam sobre o filho bom de bola
Outros sonham com a volta do político “roba mais faíz”
Sem se importar com a moral ou o futuro do país

Esse e meu mundo, o meu éden, meu lugar
É o meu povo, meu quartel, minha praça
Minha Europa, meu Haiti, minha Soweto
Minha cidadela, meu estado e meu Ghetto.

3 comentários:

paulinho dagomé disse...

ou muito me engano ou vislumbro um raper disfarçado nestes e, agora rememoro, noutros versos da tua lavra, poeta. Agora é só botar o rítmo... parabéns.

Unknown disse...

É sempre uma satisfação ler e reler os seus poemas. Lembrando sempre que, apesar da comida do vizinho parecer melhor do que a nossa, o nosso barraco é sempre melhor do que o castelo do nosso vizinho. Muita Paz, da sua amiga Veronica Soares;

Unknown disse...

Olá! Gostei bastante de tua crítica homenagem a teu ghetto. Continue espalhando vida através de suas palavras!

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