Hospital Sara dia 16 de janeiro de 2012, às 15 horas, terceiro andar, ala C, estava eu, estendido no meu leito lendo o livro “Sucupira ame-a ou deixe-a” de Dias Gomes para matar o tempo e aplacar o leve sentimento de apreensão que deve anteceder as circunstancia de intervenção cirúrgica que quaisquer pessoas venham se submeter. Já beirando o cochilo provocado pela tranqüilidade (meio que celestial?) reinante nos interior dessa abençoada casa de saúde e pela letargia provocada pela concentração na leitura, sou despertado pela presença meio angelical uniformizada de uma funcionaria identificada no crachá pelo nome de Mayara, que me convidou para participar de uma oficina de culinária, a título de espantar o ócio. Aceitei o convite de pronto, ela então, me disse para ir seguindo para a ala B enquanto ia estendo o convite para outros pacientes.
Chegando a referida ala, encontrei uma mesa retangular já ocupada por algumas pessoas e por outra funcionaria por nome Patrícia, pessoa de sorriso franco e de natural simpatia, o que em parte eu atribuo ao fato dela ser filha do estado de Goiás. Ela se apresentou como sendo nutricionista e adiantou para os presentes que iríamos fazer um pão de queijo light, utilizando os ingredientes relacionados nas folhas postadas em frente a cada cadeira que compunha a mesa. Enquanto aguardávamos a chegada dos outros “Pãesdequeijeiros” de ocasião, eu fui correndo os olhos pela lista de ingredientes que me pareceu das “mais simples” como diria a minha saudosa vó. Eis a lista:
1 kg de batata inglesa cozida; 1 kg de queijo ralado; 1 kg de polvilho doce; 4 ovos. Modo de preparo: amassar as batatas, misturar o queijo e o polvilho e por ultimo acrescentar os ovos. Se necessário acrescentar água, aos poucos para dar o ponto. Em seguida untar a forma antes de colocar os Paes de queijo e assar por vinte minutos. Antes que eu terminasse minha leitura da receita, a mesa da oficina foi composta pelos convidados e então a Patrícia aquela da simpatia nata do povo de Goiás, sugeriu que cada um dissesse o nome a guisa de apresentação para depois dar inicio a “pãodequeijação”.
A primeira a se apresentar foi à baiana dona Zulmira, depois a pernambucana Maria Cristina, os mineiros, Jazi, de Paracatu, Raimundo, de São Francisco e George, da cidade de Teófilo Otoni, sendo que o último mora em Brasília desde 1960, ou seja, é um candango um dos muitos pilares da construção da nossa Brasília. Na seqüência se apresentou o Vanderlei do estado de Rondônia, Patrícia (a simpática) dona Maria da guia, mãe e acompanhante da paciente Adriana, o seu Nucêncio mineiro de nascimento, mas goiano de coração e depois eu, Edvair não tão simpático como a nutricionista Patrícia, mas também goiano de nascimento e coração.
Abro aqui um espaço para falar um pouco mais de outra pessoal especial chamada Mayara, a brasiliense que até aqui foi pouco citada, mas de suma importância para evento da oficina, já que foi ela que percorreu os corredores das alas A e B para arregimentar os participantes ou oficineiros, além de ser a professora da mesma. A Mayara, talvez por estar ocupada com os detalhes da oficina não participou da roda de apresentação, mas irradia mesma gama de simpatia da goiana Patrícia, Mayara, o anjo com jeito de gente que me tirou da semi-madorna, para participar da oficina.
Concluído as apresentações metemos literalmente a mão na massa, ou seja, entramos no “fazimento” do pão de queijo que teve inicio com a ralação do queijo, amassamento das batatas, já previamente cozidas. Enfim, na mistura de todos os ingredientes, e enquanto uns tratavam da mistura até formar uma massa homogênea, como costuma dizer Ana Maria Braga, outros cuidavam de untar as formas. Massa pronta, formas untadas, dividimos a massa em nove partes. Partes essas, que sobre os olhares supervisores da Patrícia e a professora Mayara, foram transformadas em bolinhas de tamanhos adequados para serem colocados nas formas, para o devido “assamento”.
Faz-se necessário chamar a atenção nesse texto para o pericia do rondoniense Vanderlei em confeccionar bolinhos de Paes de queijo usando apenas uma das mãos, além do momento culinário cultural quando o Sr Jazi, mineiro de Paracatu e por isso bom entendedor da historia do pão de queijo e do queijo propriamente dito, nos informou que o primeiro queijo fabricado no Brasil foi no estado do Pernambuco e que a posteriori em virtude da riqueza dos pastos de Minas Gerais a fabricação desse kitute foi transferido para as gerais, isso quer dizer que no Hospital Sarah, medicina, culinária, pão queijo e cultura andam lado a lado etc. e tal.
Durante a sua apresentação, Patrícia falou dos propósitos da oficina que são de combater o ócio, apresentar opções alimentares saudáveis e eu, na minha humilde interpretação, acrescento que do mesmo, visa também encurtar as distancias entre pessoas que às vezes, mesmo estando próximas dividindo o mesmo espaço físico, vivendo os mesmos dramas com características diferentes se encontram meio que isoladas. E momentos como esses quebram o gelo, aproximam as pessoas e criam novas amizades.
Faz-nos compreender a pequenez dos nossos dramas em comparação com dos outros ou os nivela, colocando-os no mesmo patamar. Acrescenta força, alarga nossos corações e mentes, nos torna mais humanos e solidários despertam, ainda, em todos os envolvidos de uma forma ou de outra, descobertas de superação e auto-capacitação, pois todo o participante, não importando o grau de dificuldade ou problema físico apresentado, deu sua contribuição de forma concreta e espontânea para tornar realidade a pãodequeijação. Hospital Sarah Kubistchek, reduto de resistência contra os males físicos, psíquicos e espirituais por ter no seu quadro de profissionais, pessoas compromissadas espontaneamente com o bem estar dos pacientes e seus familiares, pessoas em cujos sorrisos, o interlocutor percebe radiantemente estampado; eu adoro ser bom (a), eu amo o ser humano. Quanto a mim, sou grato pelo momento impar vivido na companhia desses novos amigos, só posso agradecer e afirmar vocês passaram a fazer parte da minha historia.
Edvair Ribeiro em 16/01/2012.
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